O treinamento e
suas metas
É importante ter um
filme de como imaginamos o nosso produto final, onde queremos chegar, para
podermos estabelecer os objetivos e trabalhar naquela direção.
Todo e qualquer projeto de sucesso, precisa de metas.
Não importa se é um empreendimento comercial, um serviço, um trabalho de arte,
um concerto musical ou o treinamento de um cavalo. No nosso caso, a meta é um
cavalo finalizado, pronto para ser apresentado. Por isso, é importante ter um
filme de como imaginamos o nosso produto final, onde queremos chegar, para
podermos estabelecer os objetivos e trabalhar naquela direção.
Além de saber onde queremos chegar é preciso analisar
a questão do tempo. Além do cronológico, também temos o tempo interno, ou seja,
a nossa disponibilidade interna para nos dedicar a esse cavalo. Ainda existe
gente que acredita ser possível treinar um cavalo montando-o de vez em
quando.
No caso do esporte equestre atual, temos grandes
eventos, como os Potro do Futuro, onde o dinheiro e o prestígio estão sempre gritando
muito alto. Normalmente, esses eventos têm data marcada. Portanto, a meta do
treinador é aprontar o potro para aquela data. Muitas vezes, o processo do
potro pode ser mais lento, no que diz respeito à sua evolução no processo de
treinamento ou se machuca numa das fases ou é mal nascido e, de repente, fica atrasado.
É nesse momento que a maioria dos treinadores se
perde, porque acreditam que precisam apertar o programa para chegar e recuperar
o tempo perdido se torna o foco do treinamento. O resultado, com certeza, vai
ser um potro mal treinado e se ele se der bem no Potro do Futuro vai ser uma exceção.
Muitos treinadores adoram se vangloriar apesar das
adversidades e outros responsabilizam o potro por seu fracasso. Mas nunca
escutamos um comentário ponderado do tipo: "Ele não estava bem mesmo. Na
verdade, ele deveria ter ficado em casa."
Precisamos sempre levar em conta que as sessões de
treinamento apresentam sempre muitas variações. Muitas vezes, precisamos usar
duas estratégias diferentes para obter a mesma resposta de dois cavalos
diferentes. É nesse momento que as
habilidades e a experiência do treinador entram em cena. Muitos treinadores
inexperientes acreditam que o treinamento é mecânico; que fazendo isso, eles
obtêm aquilo. Isso é absolutamente falso no que diz respeito ao treinamento de
cavalos. Pode ser verdade se estivermos operando uma máquina, mas nunca com
cavalos.
É muito comum vermos um cavalo que não está indo bem
com um determinado treinador e ser mandado para outro e começar a funcionar
bem. Por quê? Porque, provavelmente, esse cavalo reage melhor a como esse
treinador lhe apresenta os exercícios. Essa maneira não estressa tanto o cavalo
ou ele tem mais liberdade para executar as manobras ou agora ele não tem medo
ou não está deprimido e nem frustrado.
Como já disse em várias ocasiões: "mais importante do que o que se
faz, é como se faz". Não podemos esquecer que cavalos são indivíduos únicos,
assim como nós.
Outra dificuldade que encontramos no treinamento de
cavalos é a questão hormonal que faz com que os treinadores se afundem na sua
mala de truques, procurando por maneiras de anular aquela situação e trazer
esses animais para uma moldura mental e emocional, mais apta a ser treinada.
Mas, na maioria das vezes, as frustrações são inevitáveis.
No meu entender existem algumas situações que nos
sinucam como treinadores. A primeira são as emoções negativas, como: medo,
insegurança, ansiedade, desconfiança e etc... já falamos disso numa outra
matéria, repito por que acredito que essa questão exige uma postura mais
consciente e séria. Um cavalo não tem a menor condição de receber treinamento
se estiver com medo, ansioso, desconfiado ou inseguro. Nesse caso, a repetição
só vai piorar a situação. Não podemos esquecer que somos nós os responsáveis
pela acomodação, portanto, voltar atrás é a nossa melhor opção.
O que mede a capacidade de um treinador não é só a sua
habilidade para ensinar o cavalo a executar as manobras, mas, principalmente, a
habilidade para tirá-lo dessa moldura mental/emocional e voltar a uma moldura
de aprendizado. Punir um cavalo com medo/insegurança/ ansiedade/desconfiança
está absolutamente fora de cogitação. Isso só agrava o problema.
A segunda situação é a frustração e a apatia que tem
como suas maiores causas a intensa repetição dos exercícios e manobras. Muitos
treinadores não sabem “o momento de parar”. Precisamos compreender que, na
maioria das vezes, o cavalo se recusa a executar um exercício ou manobra devido
a alguma frustração que está vivendo. Para aliviar esse problema, a
questão é simplesmente diminuir o
tamanho das sessões e tentar manter o cavalo alerta e colaborador. A terceira situação e essa talvez seja uma
das mais importantes é a "confusão". Se o cavalo estiver confuso o
melhor que podemos fazer é deixar o treino para amanhã. Podemos fazer um
exterior e deixá-lo quieto. É importante saber que a maioria das causas de
"confusões" aparecem por pedirmos para executar um movimento ou
manobra que ele ainda não é capaz ou por pedir muito, muito cedo, ou também por
causa das nossas punições, fora do “timing”. Se um cavalo fica excitado quando é
requisitado, tentando disparar ou relutando a tentar, provavelmente ele está
confuso. Portanto, punição e repetição são absolutamente inadequadas. Na
verdade, precisamos bolar um plano onde possamos ensiná-lo mais devagar.
O maior problema é que a maioria dos treinadores, não
reconhece "confusão", eles a confundem com teimosia e punem o cavalo,
o que gera mais confusão, que se transforma em nervosismo e insegurança,
rebeldia e assim por diante.
A última é o temperamento. Cavalos têm personalidade,
temperamento. Dependendo da situação, eles podem ficar realmente bravos. O
primeiro sinal a respeito de um temperamento irado é quando percebemos que não
dá a menor bola para as ajudas. Não importa o quão firme nós a aplicamos. Um
puxão nas rédeas, uma esporada mais forte, podem não significar nada para ele.
Muitas vezes, ele pode nos mostrar os dentes. Em outras, ele pode sair correndo
se esfregando numa cerca ou passando por baixo de uma árvore. Muitos
treinadores decidem entrar nessa briga, no entanto, muito raramente saem dela
com sucesso. O melhor de tudo é o “horsemanship manhana”. Deixar para amanhã. E
na próxima sessão tentar descobrir o que fez aquilo tudo vir à tona e
evidentemente tentar evitar que tudo comece outra vez.
Essas são algumas situações que vamos encontrar
durante o programa de treinamento. Precisamos treinar cada vez mais para
reconhecer - o mais rápido possível - os sinais que o cavalo nos manda. Isso
vai ajudar a procurar pela solução. “Observar, lembrar e comparar”, como já
dizia Tom Dorrance. Precisamos aprender a perceber o cavalo nos dizendo onde
está a solução. Precisamos estar atentos porque o melhor momento para
corrigirmos um problema é antes dele acontecer.
Eduardo
Borba – Inspirado no livro : “If I Were Train a Horse” – Jack Brainard