quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Vaqueiros da Faz. Nova Piratininga - S. Miguel do Araguaia - GO







Domando o Gado no Rodeio




Bill Dorrance, A Morte de um Lendário Horseman
Não existe nenhum Encantador de Cavalos. Nunca houve, nem haverá. Essa idéia é uma ofensa ao cavalo.
Você pode falar e até escutar o que os cavalos tentam dizer. Mas, se você concentrar-se um pouco mais e aprofundar a sua atenção, vai perceber que os cavalos são animais que vivem num espaço além de qualquer linguagem, não importa o quanto você possa caracteriza-la. Tudo isso ainda é muito pobre, por tudo aquilo que os cavalos podem compreender a respeito deles mesmos e a respeito dos seres humanos. Para poder obter a atenção e a colaboração deles, você precisa praticar três coisas: paciência, capacidade de observação e humildade. Essa foi a tônica de uma vida inteira de dedicação de um velho senhor chamado Bill Dorrance que morreu no dia 20 de julho de 1999, na Califórnia, E.U.A..
Com 93 anos completos Bill Dorrance, até poucos meses antes da sua morte, montava a cavalo e laçava. Ele foi uma dessas pessoas especiais que com seu irmão Tom, apesar de não trabalharem juntos, ajudou a redefinir as relações entre cavalos e cavaleiros.
Bill Dorrance viu que sutileza era uma ferramenta muito mais eficiente do que o uso da força, mas também percebeu que sutileza também é uma coisa difícil de se exercitar, principalmente se você acredita, como a maioria das pessoas que é superior ao cavalo. Na maneira como Bill Dorrance ensinava e montava não havia dominação, nem intimidação, o que havia era a mais pura parceria.
Do melhor “horsemanship buckaroo” – o cowboy espanhol do século XVIII na Califórnia – Bill Dorrance trouxe a mais exaltada humanidade que em sua mais alta expressão, é a confiança e a vontade de responder do cavalo.
Não havia regras no que Bill Dorrance sabia, como por exemplo trançar couro cru que é relativamente fácil quando comparado com assuntos como saber da individualidade tanto dos cavalos como dos seres humanos, temas esses que não podem ser ensinados, só podem ser vivenciados.
A herança que deixou é extremamente complexa, é demonstração de ausência ego e de interiorização. Algumas pessoas podem até dizer que tiveram aulas e aprenderam com Bill Dorrance. Mas se elas pensarem um pouco mais profundamente, perceberão que não aprenderam coisa nenhuma.
Isso soa muito estranho, mas reflete que o que se poderia aprender com Bill Dorrance seria a maneira de aprender como se aprende, cujo o sujeito poderia ser o cavalo, mas poderia estender-se em direções surpreendentes, incluindo cachorros, gado, gente, etc…
Não existe misticismo nem mágica, é somente uma questão de educação com os cavalos. E se você aprendeu, vai perceber que não tem por que se vangloriar.
Muita gente passou por Bill Dorrance. Alguns conseguiram ganhar muito dinheiro, popularizando aquilo que pensou ter aprendido. Porém, o que Bill Dorrance sabia nunca vai ser popular, assim como ele próprio nunca ganhou muito dinheiro com essa sabedoria. Não se vende uma curiosidade incansável e muito menos modéstia.
É muito difícil por preço numa coisa, tendo que aceitar que tudo que você sabe a respeito de cavalos pode mudar a cada próximo cavalo que chegar.
Texto: Verlyn Klinkenborg
Versão: BorbaPublicado:
Revista ABQM

quarta-feira, 27 de julho de 2016

NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA
Na busca pela integração homem-cavalo precisamos, antes de tudo, nos conectar em nós mesmos
Sei que sou um sonhador, mas também sei que não sou o único, por isso, gostaria muito de compartilhar as minhas sensações e percepções a respeito de como vejo o cavalo. Afinal, desde que comecei a trabalhar com Educação Equestre & Equitação já se passaram 40 anos. Uma trajetória recheada de inúmeros livros, filmes e clínicas e uma grande lição, como já mencionei várias vezes aqui, “na prática a teoria é outra”.
Digo isso por que a cada cavalo novo que chega e cada curso que ministro, tenho que me ajustar a determinadas situações. Isso me fez aprender, desde muito cedo, que a verdadeira teoria é aquela que acabei de praticar. Quando, por exemplo, um aluno me diz que o cavalo dele não quer fazer determinado movimento, respondo que com essa postura ele estará fechando as portas do seu próprio desenvolvimento.
Para se abrir ao desenvolvimento de sua Educação Equestre, terá, antes de tudo, de entender que, naquele momento, não tem conhecimento e habilidade suficientes para apresentar o movimento de maneira que aquele cavalo possa compreender.
Tenho absoluta convicção de que foi acreditando que os problemas estavam comigo e não com o cavalo que consegui superá-los. O fato de estar exposto àquela situação me levava a buscar dentro de mim novas formas de abordar o mesmo problema. Talvez essa seja a maior riqueza do meu convívio cotidianamente com os cavalos nesses últimos 40 anos.
O mais incrível é que, depois de todos esses anos, sinto que agora começo a perceber o que realmente importa. Quando mais me aprofundo no sentido de compreender o significado e a importância do instinto de autopreservação, fica cada vez mais clara a tendência natural do cavalo para fazer conexão com o ser humano. Essa é, sem dúvida, a condição sine qua non para ganharmos a sua confiança. Na verdade, ele só precisa da nossa sensibilidade.
Isso só é possível se, quando estiver diante de um cavalo, consiga enxergar só o cavalo, com todas as suas peculiaridades e particularidades, nada além disso.
Preciso estar com os meus sentidos e a minha intuição ligados para tentar traduzir o que ele está querendo me dizer a respeito daquilo que está acontecendo dentro dele. Percebo claramente que o que acontece no seu corpo é reflexo do que ele está sentindo internamente. Tanto mental quanto emocionalmente.
O cavalo tem uma vida interna muito intensa e particular. Acredito realmente que é muito complexo trazer para a consciência tudo que existe num cavalo. É mais difícil ainda separar todas peculiaridades e particularidades. Para adequar corretamente nossas decisões, precisamos dirigir todo o nosso esforço na direção da compreensão desses detalhes.
Minha preocupação é sempre ajudar as pessoas a se apresentarem ao cavalo de uma maneira que consiga recebê-las com segurança e compreensão. No entanto, sei que só imbuídos de muito amor e de uma paciência infinita - com o cavalo e nós mesmos - é que vamos conseguir compreender seus medos, aflições e resistências.
Hoje, depois de 40 anos, percebo claramente quando acontece aquele “ah, então é isso!”. É nesse momento que somos tocados no coração, que nada mais é que o cavalo retribuindo deliberadamente, confiante e sem nenhuma resistência àquilo que pedimos.
Mas não vamos esquecer: “primeiro precisamos compreendê-lo, para depois sermos compreendidos”.
Não existe nenhuma explicação racional para esse “Ah!”, que marca o momento exato da verdadeira integração. Isso é fruto apenas da “nossa sensibilidade, do nosso timing, e do nosso bom senso”, coisas que aprendemos no dia a dia.
Por isso, insisto com meus alunos que o primeiro passo do aprendizado é desenvolver um nível de consciência que nos permita entender onde nosso cavalo está física, mental e emocionalmente. A partir daí vamos construindo.
Nessas quatro décadas trabalhei com centenas de pessoas e cavalos. Digo, com toda segurança, que a grande maioria me deu o seu melhor de seu tempo, sua atenção e, principalmente, seu esforço pessoal. Na verdade, sinto que compartilhamos experiências que foram extremamente valiosas, não só para elas, mas principalmente na minha procura pelos caminhos da verdadeira integração homem-cavalo. Não vou citar nomes, mas quem quiser pode entrar no www.doma.com.br e ir na parte de “Depoimentos”. Ali estão relatos de pessoas que conseguiram emergir nesse tipo de entendimento e o que realmente significa o meu trabalho.
Acabamos, por tudo o que está compreendido, também conectados. Até hoje essas pessoas estão absolutamente presentes na minha vida. Sempre penso nelas, na experiência que passamos juntos e nas coisas que aprendemos e continuamos aprendendo. Trata-se de um exercício infinito e aí reside a magia dessa relação. Quero, com muito carinho, agradecer a todas as pessoas e todos os cavalos pela oportunidade e privilégio de compartilhar momentos inesquecíveis de nossas vidas. Obrigado, mesmo!
Revista Horse Edição 56 - Maio 2013 - Doma em Progresso.
Eduardo Borba
Projeto Doma
UM NOVO OLHAR SOBRE OS VELHOS MÉTODOS
Nesses últimos 10 anos, tenho feito um grande esforço para colocar a Educação Equestre e a Equitação em bases onde as pessoas consigam abordar os animais com sucesso. Não acredito em mágicas. Meu objetivo principal é que as pessoas consigam criar situações com seus cavalos onde possam evoluir além das suas referências e limites. Acredito no esforço de cada um, no que diz respeito a estudar o cavalo como um todo: físico, mental e emocional.
Não importa qual é a modalidade da atividade equestre escolhida. O cavaleiro precisa ter habilidade para administrar e dirigir a energia do seu cavalo dentro daquele tempo e espaço.
Para isso, é fundamental que o cavaleiro perceba que existe uma diferença enorme quando o cavalo controla sua própria energia e quando ele permite ao seu cavaleiro comandá-la.
O fato é que, na maioria das vezes, as pessoas acreditam que estão controlando a energia do seu cavalo, mas na verdade não estão. Montar é como dançar. se estiver tocando samba, os dois têm que dançar samba. Não pode um dançar samba e o outro dançar valsa.
Quando estou montando um potro ou mesmo um cavalo mais maduro, gosto de fazer um teste para saber se aquele animal está realmente comigo.
Num determinado momento da sessão, paro de montar, isto é, jogo as rédeas no pescoço dele e tiro toda a energia do meu corpo. se ele parar imediatamente, significa que estávamos conectados como se estivéssemos dançando e acabasse a música. Mas se isso não acontecer, fica muito claro que não estávamos sintonizados na mesma música.
Outro exemplo característico: uma pessoa que está cabresteando um cavalo que está relutante em andar. A cada passo ele vai ficando mais pesado no cabo do cabresto. Num determinado momento ele para. A pessoa para, alivia o cabo do cabresto e olha para trás. O alívio neste caso está reforçando o cavalo a não entregar a sua energia.
O que os cavalos fazem e por que fazem o que fazem? Eles sabem tudo o que não sabemos. São muito espertos, evitam aquilo que não compreendem, mas toleram tudo o que não conseguem evitar.
Em razão disso, só a “atenção sobre si” é capaz de nos ajudar a desenvolver habilidades físicas, mentais e emocionais para saber onde o nosso cavalo está mentalmente. Quando estamos ensinando alguma coisa nova ao nosso cavalo, precisamos aprender a reconhecer a menor tentativa e a mudança mais sutil para começar a construir a partir dali. É fundamental perceber como o animal pensa antes de agir. Por exemplo, quando vou ensinar um cavalo a me dar uma das patas, o que acontece antes dele levantar essa pata? primeiro ele precisa transferir o peso para as outras três e se estabilizar nelas. Só depois disso consegue me dar a pata e ficar tranquilo. A maioria das pessoas não percebe isso e, quando o cavalo precisa colocar aquela pata no chão para restabelecer o equilíbrio, acham que ele está teimoso e castigam-no pela atitude. Isso não faz nenhum sentido ao cavalo. Com isso, ele vai sempre associar o manusear das patas a uma sensação desagradável.
É o nosso desenvolvimento da nossa sensibilidade que vai nos ajudar a interpretar as diversas sensações (feel) que o cavalo nos oferece e é o acerto dessa interpretação que nos levará ao timing daquele cavalo e o nosso bom senso vai nos mostrar o que é fazer muito pouco e o que é ir além do limite.
O que se vê é muitas vezes uma técnica sendo aplicada ao pé da letra. Mas o cavaleiro não está levando em consideração as sensações (feel) e o timing daquela situação. Nesse caso o resultado é apenas sofrível. Por outro lado, um cavaleiro dono de uma técnica não tão apurada, mas que aplicada observando a sensação (feel) e o timing do cavalo, produz um resultado muito melhor. O que ocorre é que quando interpretamos corretamente aquela sensação (feel) e acertamos o timing, o nosso bom senso mostrará o que é fazer pouco e o que é fazer muito.
É na psicologia, isto é, na sensibilidade, timing e bom senso, que está a chave que abre o cavalo para nos entregar a sua energia. por isso que se diz: “Os bons e longos serviços que um cavalo poderá dar durante sua vida útil vai depender de como ele foi iniciado”.
Revista Horse Edição 33 - Maio 2011 - Doma em Progresso.
Eduardo Borba
Projeto Doma