quarta-feira, 27 de julho de 2016

UM NOVO OLHAR SOBRE OS VELHOS MÉTODOS
Nesses últimos 10 anos, tenho feito um grande esforço para colocar a Educação Equestre e a Equitação em bases onde as pessoas consigam abordar os animais com sucesso. Não acredito em mágicas. Meu objetivo principal é que as pessoas consigam criar situações com seus cavalos onde possam evoluir além das suas referências e limites. Acredito no esforço de cada um, no que diz respeito a estudar o cavalo como um todo: físico, mental e emocional.
Não importa qual é a modalidade da atividade equestre escolhida. O cavaleiro precisa ter habilidade para administrar e dirigir a energia do seu cavalo dentro daquele tempo e espaço.
Para isso, é fundamental que o cavaleiro perceba que existe uma diferença enorme quando o cavalo controla sua própria energia e quando ele permite ao seu cavaleiro comandá-la.
O fato é que, na maioria das vezes, as pessoas acreditam que estão controlando a energia do seu cavalo, mas na verdade não estão. Montar é como dançar. se estiver tocando samba, os dois têm que dançar samba. Não pode um dançar samba e o outro dançar valsa.
Quando estou montando um potro ou mesmo um cavalo mais maduro, gosto de fazer um teste para saber se aquele animal está realmente comigo.
Num determinado momento da sessão, paro de montar, isto é, jogo as rédeas no pescoço dele e tiro toda a energia do meu corpo. se ele parar imediatamente, significa que estávamos conectados como se estivéssemos dançando e acabasse a música. Mas se isso não acontecer, fica muito claro que não estávamos sintonizados na mesma música.
Outro exemplo característico: uma pessoa que está cabresteando um cavalo que está relutante em andar. A cada passo ele vai ficando mais pesado no cabo do cabresto. Num determinado momento ele para. A pessoa para, alivia o cabo do cabresto e olha para trás. O alívio neste caso está reforçando o cavalo a não entregar a sua energia.
O que os cavalos fazem e por que fazem o que fazem? Eles sabem tudo o que não sabemos. São muito espertos, evitam aquilo que não compreendem, mas toleram tudo o que não conseguem evitar.
Em razão disso, só a “atenção sobre si” é capaz de nos ajudar a desenvolver habilidades físicas, mentais e emocionais para saber onde o nosso cavalo está mentalmente. Quando estamos ensinando alguma coisa nova ao nosso cavalo, precisamos aprender a reconhecer a menor tentativa e a mudança mais sutil para começar a construir a partir dali. É fundamental perceber como o animal pensa antes de agir. Por exemplo, quando vou ensinar um cavalo a me dar uma das patas, o que acontece antes dele levantar essa pata? primeiro ele precisa transferir o peso para as outras três e se estabilizar nelas. Só depois disso consegue me dar a pata e ficar tranquilo. A maioria das pessoas não percebe isso e, quando o cavalo precisa colocar aquela pata no chão para restabelecer o equilíbrio, acham que ele está teimoso e castigam-no pela atitude. Isso não faz nenhum sentido ao cavalo. Com isso, ele vai sempre associar o manusear das patas a uma sensação desagradável.
É o nosso desenvolvimento da nossa sensibilidade que vai nos ajudar a interpretar as diversas sensações (feel) que o cavalo nos oferece e é o acerto dessa interpretação que nos levará ao timing daquele cavalo e o nosso bom senso vai nos mostrar o que é fazer muito pouco e o que é ir além do limite.
O que se vê é muitas vezes uma técnica sendo aplicada ao pé da letra. Mas o cavaleiro não está levando em consideração as sensações (feel) e o timing daquela situação. Nesse caso o resultado é apenas sofrível. Por outro lado, um cavaleiro dono de uma técnica não tão apurada, mas que aplicada observando a sensação (feel) e o timing do cavalo, produz um resultado muito melhor. O que ocorre é que quando interpretamos corretamente aquela sensação (feel) e acertamos o timing, o nosso bom senso mostrará o que é fazer pouco e o que é fazer muito.
É na psicologia, isto é, na sensibilidade, timing e bom senso, que está a chave que abre o cavalo para nos entregar a sua energia. por isso que se diz: “Os bons e longos serviços que um cavalo poderá dar durante sua vida útil vai depender de como ele foi iniciado”.
Revista Horse Edição 33 - Maio 2011 - Doma em Progresso.
Eduardo Borba
Projeto Doma

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